AO PASSARINHO DO SERTÃO
Se transformou em passarinho pra poder cantar o sertão. Tinha sua terra, seu ninho, deles vinha inspirações. Fez da seca seu escudo, da poesia fez seu estudo, doutor em belas canções.
Não tinha asas de pássaro, mas delas não precisava, pois com a imaginação o sertão sobrevoava, buscava em cada galho, ou numa flor que caía, tecer com versos um atalho, pra poder criar poesia.
Somente um passarinho poderia relatar, o que há em nosso sertão, em toda noite de luar. Viu morrer Nanã de fome, viu nordestino migrar, mas ele ficou ali, usando o próprio sentir, para a sua vida animar.
Patativa do Assaré, poderia ser do Brasil, e também da humanidade. Por uma simples verdade, de que; quem nasceu e se doou, a vida inteira cantou com tamanha liberdade, não poderia ser mesquinho e acabar dentro de um ninho e ser de alguém propriedade.
Com a sua ideologia viva, era assim o Patativa, gostava de ter um lado, defendia o sofredor, por ser um trabalhador, sabia o que era um arado.
E as poesias de sua mão grossa, com sabedoria imensa, quando os olhos lhe falhavam ditava suas sentenças, por fim lhes faltou a voz, mas resistia entre nós com sua forte presença.
Aquele que faz poesia é igual a um passarinho, mesmo ficando calado, isolado em seu cantinho, carrega a simbologia de ser a própria poesia se emendando em pedacinhos.
Patativa do Assaré, mistura de ave e gente. Quando queria trabalhar, naquele lugar tão quente, se tornava brasileiro e passava o dia inteiro produzindo sua comida, mas, de um momento para outro, virava um pássaro solto fazendo poesias da vida.
Quis partir, deixar a terra e as árvores do sertão, assim é a natureza que nos leva pela mão; nos faz tropeçar nos anos e um dia interrompe os planos como um final de canção.
Este passarinho alegre, vai continuar entre a gente, quando não for pelas letras, será pela voz consciente, que nos dirá em cada verso, que este pequeno universo será seu eternamente.
Patativa da poesia, do canto do sabiá, que colocou os poetas, cada qual em seu lugar. Aqueles que na cidade, com a sua honestidade podem a vida rimar; e os demais no sertão, disse ele com razão: “Cante lá que eu canto cá”.
Dizer adeus não precisa, pra quem estará presente. Assim se resume a vida, de quem vive plenamente. Ainda mais quem faz poesia, terá sempre a garantia, seja de noite ou de dia é um perfume que se sente.
Patativa passarinho, que tudo dito ou cantado, seja herança de beleza, a nós, teus filhos, doado. Carregaremos contentes pois sempre será presente o que fizeste no passado.
Termino com um verso seu escrito no pé da serra, onde a poesia se chama “Caboca de Minha Terra” é ali onde você diz com seu jeito natural: “Quem me dera sê poeta/Da mais rica inspiração/ Pra na linguage correta/ Fazê do choro canção/ Fazê riso do gemido./ Ah! Se o esprito sabido/ De Catulo e Juvená/ Falasse por minha boca,/ Promode eu cantá a caboca/ Da minha terra natá”.
Ademar Bogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário